Paisagem fugidia
Impressão jato de tinta sobre papel de algodão
Janelas, horizontes e paisagens moldadas pela ação humana são os assuntos presentes nas imagens da série intitulada Paisagem Fugidia composta por fotografias impressas em grande formato sobre papel de algodão. São registros visuais do deslocamento entre grandes distâncias rodoviárias. Imagens que captam a perspectiva de um olhar que mira não o horizonte à frente na ânsia pelo destino final, mas que se permite olhar a paisagem que foge a apreensão pelas janelas laterais de um veículo em alta velocidade. O processo de feitura das imagens envolve diferentes tempos, escolhas técnicas e um minucioso trabalho de pós-produção. Na composições dos diversos campos de profundidade de cada fotografia temos um desfoque no primeiríssimo plano, potencializado pelo embate entre duas tecnologias em ação no momento da captura: velocidade do automóvel e a velocidade da câmera fotográfica. Para o artista, interessa-lhe o que está entre o chegar e partir, e tentar recuperar uma certa identidade e noção de sentido para este não-lugar, a auto estrada. Nos planos seguintes das mesmas imagens, apesar de não haver pessoas retratadas, nota-se a presença da ação humana: na própria rodovia em si, nas edificações abandonadas que por algum motivo perderam sua função e deixaram de fazer sentido; nos ramais de terra que levam a lugares fora do campo de visão do recorte fotográfico; nos fios elétricos; nas placas de sinalização; nos desmatamentos; no verde das monoculturas, que não é natureza; e nos reflorestamentos com espécies únicas. A linha do horizonte devolve uma noção de estabilidade e equilíbrio às imagens, ao propor aos olhos um corte horizontal que divide a fotografia em duas faixas cromáticas distintas. No processo de pós-produção, o artista escolhe as imagens da série, feitas em modo de disparo contínuo na câmera fotográfica, como se selecionasse frames de um filme de projeção. Por conta das velocidades em jogo no momento da captação, muitas das fotografias foram recuperadas e/ou surgiram somente através dos deslocamentos dos canais de exposição, cores e saturação na manipulação digital dos arquivos em softwares de edição de imagens. A série propõe assim o registro de paisagens artificiais a partir do mundo real sem, entretanto, o bucolismo fortemente presente nas imagens de backdrop dos sistemas operacionais como Windows e IOS. São paisagens pictóricas e moldadas artificialmente com o auxílio de tecnologias digitais avançadas. De algum modo poderia se dizer “naturalmente artificiais”.